domingo, 1 de julho de 2012

Quer trabalhar como intérprete?

Fui contratada como intérprete numa negociação entre empresas Européia, Americana e Brasileira que aconteceu no início da semana. Havia dois participantes com nível muito bom de Inglês, mas a empresa estrangeira optou por alguém neutro para transmitir a informação.

Se o valor lhe passou pela cabeça, deixe-me dizer que ganha-se bem nesse setor, mas logicamente não cobrei o mesmo que intérpretes-celebridades. Conheço um intérprete em São Paulo que chega a cobrar mais de R$300 por hora por sua qualidade técnica e conta com músicos, atores, políticos e altos empresários como clientes exclusivos. Eu o vi diversas vezes na Tv.

Voltando a mim, a ansiedade por desconhecer os participantes e preparar-me para um vocabulário técnico que não utilizo sequer em Português, gerou um nervosismo natural e precisou ser dominado a qualquer custo para me concentrar no papel para o qual fui contratada: transmitir com precisão e imparcialidade as falas dos executivos envolvidos na negociação.
Confesso que naturalmente a ansiedade atrapalha e que os primeiros minutos de conversa servem como um calibrador, pois é durante esse valioso tempo que tenho a chance de acostumar-me com padrão de voz, sotaques e vernáculos utilizados por cada um.
Foram 8 horas de reuniões, almoço executivo e visitas a empresas, intermediando conversas entre três países e confesso que foi necessário um certo preparo para manter a concentração. Como consegui isso? Trabalhando longas horas numa escola de idiomas que exige muito mais que as escolas convencionais.
Eu não fui perfeita; tenho que melhorar; e logicamente só se melhora quando se tem humildade suficiente para admitir erros. Então vamos a eles:
1) Um intérprete deveria manter-se neutro, mas em dado momento, por ver um certo questionamento ser repetido várias vezes devido ao desconhecimento das leis no Brasil, pedi licença ao executivo brasileiro e expliquei algumas leis trabalhistas para as partes estrangeiras. O impasse parece ter sido resolvido, mas fez-me sentir mal pela interferência.
2) Comentei com o executivo alemão a qualidade incontestável dos produtos da empresa brasileira e mesmo sabendo que minha afirmação era verdadeira e comprovada por engenheiros ao redor do país, senti que cruzei a linha permitida pois envolvi-me diretamente.
3) A caminho de uma visita técnica sem querer iniciei uma frase em Português com o CEO da empresa estrangeira. Todos rimos e eu passei a frase para o Inglês rapidamente. Falta de atenção minha.
Recuperei um pouco da auto-estima no almoço tardio, após membros dessa delegação elogiarem meu profissionalismo e postura perante diversas situações. Seguimos às visitas e ao final do dia, o membro brasileiro da comitiva internacional elogiou meu trabalho, explicou que estava trazendo um grande grupo de engenheiros ao Brasil e perguntou se poderia contar comigo novamente para acompanhá-los em visitas à região.
Despedi-me do CEO da empresa estrangeira também ouvindo um elogio pelo serviço prestado e sua esperança em trabalharmos juntos novamente.
Retornei à escola às 18h50 e lecionei até às 21h. Tomei um banho e fui direto para a cama onde dormi o sono dos justos. Cansada, mas feliz pelo dever cumprido.
Boa semana a todos e lembre-se: sempre dê o melhor de si para receber o melhor de todos.

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